Não sou a tua musa.
Não fui criada para te inspirar.
Não estou deitada num sofá à espera que me pintem ou fotografem.

Sou a minha.
E às vezes, posso ser a tua também.

Falo sozinha.
Escrevo coisas que me fazem rir.
Esqueço o que ia dizer a meio de um orgasmo.
Sinto inspiração e preguiça em partes iguais.

Não sou divina.
Sou comum.
Comuns são os rituais que invento para não enlouquecer.
Comum é o corpo que me lembra do que vale a pena sentir.

Falo de lubrificantes com o mesmo tom com que falo de meditação.
Reivindico o direito de me tocar sem mística nem culpa.
E se às vezes pareço sagrada, é porque aprendi a desacelerar — não porque nasci para ser olhada.

Sou musa, mas não mito.
Sou comum.
Não sou calada.

E estou a escrever isto
com as mãos que também me dão prazer.